PEQUIM — A secretaria de saúde do estado do Espírito Santo, Brasil, anunciou nesta terça-feira que a presença de anticorpos IgG, específicos do vírus SARS-CoV-2, foi detectada em amostras de soro de dezembro de 2019.
A secretaria de saúde informou que foram coletadas 7.370 amostras de soro entre dezembro de 2019 e junho de 2020 de pacientes suspeitos de infecção por dengue e chikungunya.
Com as amostras analisadas, foram detectados anticorpos IgG em 210 pessoas, das quais 16 casos sugeriam a presença do novo coronavírus no estado antes do Brasil anunciar seu primeiro caso oficialmente confirmado em 26 de fevereiro de 2020. Um dos casos foi coletado em dezembro. 18, 2019.
O departamento de saúde disse que leva cerca de 20 dias para um paciente atingir níveis detectáveis de IgG após uma infecção, pelo que a infecção pode ter ocorrido entre o final de Novembro e o início de Dezembro de 2019.
O Ministério da Saúde do Brasil instruiu o estado a realizar investigações epidemiológicas aprofundadas para confirmação adicional.
As descobertas no Brasil são as mais recentes entre os estudos em todo o mundo que se somaram às evidências crescentes de que a COVID-19 circulou silenciosamente fora da China antes do que se pensava anteriormente.
Pesquisadores da Universidade de Milão descobriram recentemente que uma mulher na cidade do norte da Itália foi infectada com COVID-19 em novembro de 2019, de acordo com relatos da mídia.
Através de duas técnicas diferentes no tecido da pele, os investigadores identificaram numa biópsia de uma mulher de 25 anos a presença de sequências genéticas de ARN do vírus SARS-CoV-2 que datam de novembro de 2019, segundo o jornal diário regional italiano L' União Sarda.
“Há, nesta pandemia, casos em que o único sinal de infecção por COVID-19 é o de uma patologia cutânea”, disse Raffaele Gianotti, que coordenou a investigação, citado pelo jornal.
“Eu me perguntei se poderíamos encontrar evidências de SARS-CoV-2 na pele de pacientes apenas com doenças de pele antes do início da fase epidêmica oficialmente reconhecida”, disse Gianotti, acrescentando “encontramos 'as impressões digitais' de COVID-19 na pele tecido."
Com base em dados globais, esta é “a evidência mais antiga da presença do vírus SARS-CoV-2 num ser humano”, refere o relatório.
No final de abril de 2020, Michael Melham, prefeito de Belleville, no estado americano de Nova Jersey, disse que havia testado positivo para anticorpos COVID-19 e acreditava ter contraído o vírus em novembro de 2019, apesar da suposição de um médico de que o que Melham tinha experimentado foi apenas uma gripe.
Em França, os cientistas descobriram que um homem estava infectado com COVID-19 em Dezembro de 2019, cerca de um mês antes dos primeiros casos serem oficialmente registados na Europa.
Citando um médico dos hospitais Avicenne e Jean-Verdier, perto de Paris, a BBC News informou em maio de 2020 que o paciente “deve ter sido infectado entre 14 e 22 de dezembro (2019), pois os sintomas do coronavírus demoram entre cinco e 14 dias para aparecer”.
Em Espanha, investigadores da Universidade de Barcelona, uma das universidades mais prestigiadas do país, detectaram a presença do genoma do vírus em amostras de águas residuais recolhidas em 12 de março de 2019, informou a universidade num comunicado de junho de 2020.
Em Itália, uma investigação do Instituto Nacional do Cancro de Milão, publicada em Novembro de 2020, mostrou que 11,6% dos 959 voluntários saudáveis que participaram num ensaio de rastreio do cancro do pulmão entre Setembro de 2019 e Março de 2020 desenvolveram anticorpos contra a COVID-19 muito antes de Fevereiro de 2020. quando foi registado o primeiro caso oficial no país, sendo que quatro casos do estudo datavam da primeira semana de outubro de 2019, o que significa que essas pessoas tinham sido infetadas em setembro de 2019.
Em 30 de novembro de 2020, um estudo realizado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA descobriu que a COVID-19 provavelmente estava nos Estados Unidos já em meados de dezembro de 2019, semanas antes de o vírus ser identificado pela primeira vez na China.
De acordo com o estudo publicado online na revista Clinical Infectious Diseases, os pesquisadores do CDC testaram amostras de sangue de 7.389 doações de sangue de rotina coletadas pela Cruz Vermelha Americana de 13 de dezembro de 2019 a 17 de janeiro de 2020 para anticorpos específicos para o novo coronavírus.
As infecções por COVID-19 “podem ter estado presentes nos EUA em Dezembro de 2019”, cerca de um mês antes do primeiro caso oficial do país, em 19 de Janeiro de 2020, escreveram os cientistas do CDC.
Estas descobertas são mais uma ilustração de como é complicado resolver o enigma científico do rastreamento da origem do vírus.
Historicamente, o local onde um vírus foi relatado pela primeira vez muitas vezes acabou por não ser aquele de sua origem. A infecção pelo VIH, por exemplo, foi notificada pela primeira vez pelos Estados Unidos, mas também pode ser possível que o vírus não tenha origem nos Estados Unidos. E cada vez mais evidências provam que a gripe espanhola não se originou na Espanha.
No que diz respeito à COVID-19, ser o primeiro a reportar o vírus não significa que o vírus tenha tido origem na cidade chinesa de Wuhan.
Em relação a estes estudos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que “levará muito a sério todas as detecções em França, em Espanha, em Itália, e examinaremos cada uma delas”.
“Não deixaremos de conhecer a verdade sobre a origem do vírus, mas sim com base na ciência, sem politizá-la ou tentar criar tensão no processo”, disse o Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, no final de novembro de 2020.
Horário da postagem: 14 de janeiro de 2021